Hoje, comecei pela centésima vez o mesmo livro, pelo qual, nunca chego sequer a metade.
Li pela quadragésima vez, aquele trecho que sempre me deixa cambaleante. E ele diz assim:

Uma Pequena Teoria

As pessoas só observam as cores do dia no começo e
no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde
através de uma multidão de matizes e entonações,
a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir
em milhares de cores diferentes.
Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.

Talvez me já tenham me dito que este livro é totalmente mórbido, e obviamente, eu concordo. Mas não consigo deixar de gostar dele, pois sua morbidez, claramente me atraí. Talvez eu goste de tudo que é mórbido. Talvez eu goste de me sentir aconchegada pela escuridão. Talvez eu seja mórbida também.
Sim, eu me sinto atraída por pensamentos suicidas, eles rondam o meu ser, de dias em dias. Eu sinto vontade de fazer coisas erradas, e talvez seja isso que estou fazendo. Sei que vou me arrepender depois, sei disso. Mas sinto o desejo de fazê-lo, repeti-lo, até sentir-me enjoada do pecado.
Talvez não tenha uma explicação lógica pra isso, sinto que nunca teve. Nunca terá. Nada que faço é lógico. Nada é pressuposto. Mas sinto que devo fazê-lo.
Eu farei.
Sim, todos vão me culpar. Eu irei me culpar. Mas enquanto o veneno corre em minhas veias, ardendo em meu sangue vermelho, eu me sentirei completa.
Então, eu o farei. Com o gosto do veneno em minha língua.
Eu verei todas as cores ao seu redor, sentirei o cheiro de cada uma delas. Verei se formando um arco-íris em ti. Então, eu verei que não há nada que eu deseje mais neste mundo, do que ver-te em meus braços.
Sim, eu o farei.